O autismo e o cérebro – Curso de Neurociências Grátis

 O autismo e o cérebro – Curso de Neurociências Grátis

por Professor Felipe de Souza | Curso Neurociências

Olá amigos!

Esta é uma nova lição de nosso Curso de Neurociências Online Grátis. A partir de agora, vamos começar a falar da parte das neurociências que mais interessa à psicologia, que é a influência do sistema nervoso no comportamento que pode ser observado por todos. Como dissemos na primeira Lição sobre o que é neurociência, nós temos diversos níveis de estudo que vão desde o nível microscópico até o comportamento das pessoas em seu ambiente natural, no convívio social, enfim, o comportamento normal do dia-a-dia e também os comportamentos que são considerados doenças mentais.

Uma das doenças mentais mais claras que temos constituem o grupo que a psicanálise chama de grupo das psicoses: autismo, paranoia e esquizofrenia. Neste texto, falaremos a respeito do autismo e uma nova descoberta que está a revolucionar os estudos, o diagnóstico e o tratamento.

Em geral, no consultório dos psiquiatras e psicólogos ou na sala de aula de educadores, o autismo é descrito e analisado a partir do comportamento que pode ser observado. Para o diagnóstico final, leva-se em conta a interação social (quase nula), a ausência da linguagem, a consciência voltada para si mesmo (dai a palavra autismo de auto, para si) e para poucas atividades que despertam interesse.

Outro modo de entender o autismo é como uma síndrome que interrompe o desenvolvimento. Segundo o DSM-IV, “o Transtorno Autista é chamado, ocasionalmente, de autismo infantil precoce, autismo da infância ou autismo de Kanner.O prejuízo na interação social recíproca é amplo e persistente. Pode haver um prejuízo marcante no uso de múltiplos comportamentos não-verbais (por ex., contato visual direto, expressão facial, posturas e gestos corporais) que regulam a interação social e a comunicação”.

Se analisado na fase posterior, na adolescência, o sujeito pode até conseguir manter algum contato e comunicação com os demais, porém, não compreende as normas e convenções sociais e é, geralmente, incapaz de segui-las. Uma vez vi uma entrevista de um autista, que possuía a comunicação bem desenvolvida e era bastante inteligente, dizendo para o seu pai – que havia lhe ensinado que era importante perguntar para as outras pessoas “tudo bem?” ou “como você está” demonstrando real interesse no outro – e ele dizia que não demonstrava porque não sentia nenhum interesse em como as outras pessoas estavam, de verdade. Ou seja, ele foi sincero em seu sentimento, mas não conseguia entender a necessidade desta regra social.

O diagnóstico de autismo

O diagnóstico do autismo tem sido sempre comportamental até agora. Seria como dizer que a pessoa tem um problema de coração, apenas observando o modo dela andar. Pode ser útil observar o comportamento e ver uma pessoa ofegante e com o rosto corado, mas seria muito mais preciso utilizar um eletrocardiograma, não é mesmo?

E foi justamente o que a pesquisadora Aditi Shankardass percebeu. Para analisar qualquer distúrbio do cérebro que afete o comportamento, porque não analisar não só o comportamento mas também o próprio cérebro? Com uma nova técnica de eletroencefalograma, ou EEG, e programas de mapeamento da atividade encefálica, ela conseguiu fazer uma distinção no diagnóstico que vem transformando a vida de crianças que tinham um péssimo prognóstico de mudança.

O EEG, o eletroencefalograma é um método de análise das ondas cerebrais através de fios que captam a frequência no couro cabeludo ou diretamente no encéfalo. Observando diretamente as diferenças individuais ou as variações quando se realiza uma ou outra atividade, ela e sua equipe de pesquisadores da Universidade de Harvard conseguiram notar um fato até então desapercebido.

Aditi Shankardass conta a história de Justin Senegar, uma criança de sete anos que havia recebido o diagnóstico de autismo grave. Seu prognóstico era de nunca conseguir se comunicar ou interagir completamente e mal aprender a falar. Ela diz: “Quando nós utilizamos esta técnica de EEG para olharmos o cérebro de Justin, os resultados foram surpreendentes. Os resultados foram que Justin não era certamente autista. Ele sofria de convulsões cerebrais que eram invisíveis a olho nu, mas que estavam causando os sintomas que pareciam com autismo. Após receber os remédios anti-convulsão, sua mudança foi fantástica. Num período de 60 dias, seu vocabulário passou de duas ou três palavras para 300 palavras. E sua comunicação e interação social melhoraram tanto que ele foi matriculado em uma escola normal e até virou campeão de caratê”. 

Veja o vídeo – Nova técnica de EEG revela lado invisível do autismo

Em síntese, pesquisas recentes comprovaram que 50% das crianças diagnosticadas com autismo possuem na verdade um outro distúrbio: micro-convulsões cerebrais que causam sintomas parecidos, mas que, ao contrário do autismo, são sintomas e causas que podem ser tratados com medicamentos.

Conclusão

Analisar o comportamento observável é útil na medicina, assim como é fundamental para a psiquiatria e para a psicologia clínica. Porém, se estiverem disponíveis testes mais aprofundados em casos mais graves – como é o autismo – o diagnóstico pode se transformar. Externamente, o comportamento de uma criança com autismo e de uma criança com pequenas convulsões escondidas, pode ser idêntico. O tratamento, por outro lado, segue duas rotas distintas para uma e para outra causa.

No autismo, o prognóstico geralmente não é dos melhores. É provável que o paciente mantenha todos os sintomas por toda a vida, embora técnicas da psicologia comportamental possam ajudar na interação social, podemos dizer que o autismo é uma doença para a vida toda.

No caso das convulsões cerebrais, o tratamento é medicamentoso e em alguns meses, uma criança até então reclusa, sem fala, e fechada em si mesmo, pode passar a ter um comportamento compatível com sua idade.

Por isso, e não apenas para saber mais sobre a mente e o cérebro, que as neurociências são tão importantes e por isso os governos de todo o mundo tem investido em pesquisas do gênero, porque, como no caso do autismo (como erro de diagnóstico), uma vida como a de Justin pode ser transformada com o diagnóstico correto

Por: Margareth Anselmo
Psicopedagoga - Terapeuta da Aprendizagem

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